“ Se a criança intenta pentear-se, o adulto, em vez de se encher de admiração por esta maravilhosa tentativa, sente as suas prerrogativas assaltadas, e apenas nota que a criança não se penteia bem, nem depressa, e não conseguirá fazê-lo, enquanto o adulto pode executar isso muito melhor.”
Pausa, para
respirar fundo.
É assim que
acontece, não é?
Qual é a
ação imediata? Tirar (ou arrancar) o pente das mãos da criança.
Pausa, para
respirar fundo.
O Método
Montessori é também conhecido pela expressão “Seguir o ritmo da criança”. É um princípio do método, respeitar os
ritmos de cada criança. Parece simples, mas não é. Aliás, exige do adulto uma
grande capacidade de auto-regulação. A citação com que iniciei este texto é um
exemplo da nossa (in)capacidade de compreender o ritmo da pequena criança. É
claro que, conseguimos pentear mais rápido. Há quantos anos andamos neste
mundo? Esquecemos que, aquela pequena criança conhece o mundo há “poucos dias”.
O adulto
irrita-se com a criança, por causa do seu ritmo, pelos movimentos lentos e
desordenados, tão diferentes dos seus. O adulto sente sofrimento por esse ritmo
e tenta fugir, substituindo o ritmo da criança pelo seu. Sim, aquele ritmo da
criança provoca sofrimento no adulto. E por isso ele foge desse estado de
espírito. Ao substituir a criança, passa a sentir-se melhor.
“ Em vez de prestar auxílio às suas necessidades psíquicas mais essenciais, o adulto substitui a criança em todos os atos que esta quer realizar por si, vedando-lhe todos os processos de atividade e constituindo-se no mais poderoso obstáculo contra o desenvolvimento da sua existência.”
O adulto
torna-se no maior obstáculo da criança.
Quem diria! Só quer ajudar!
“Quem poderia imaginar que esta inútil ajuda dada à criança é a raiz de todas as repressões e, por conseguinte, causa dos perigosíssimos danos que o adulto ocasiona à criança.”
O adulto, ao
ver que a criança desenvolve muitos esforços para executar uma ação que acha
ser capaz de realizar mais rápido e melhor, sente a tentação de a ajudar e de a
interromper. Este é dos maiores danos no
desenvolvimento da criança, causados pelo adulto. Esta é uma das grandes causas para manifestações negativas
ao longo da vida da criança.
O ritmo do
movimento é parte integrante da construção do indivíduo. O adulto, consegue
suportar o ritmo acelerado da criança, porque é associado à vivacidade da
criança, mas o ritmo lento tende a substituí-lo.
“ O adulto poderia realizar uma espécie de missão: a do inspirador das ações infantis; um livro aberto em que a criança poderia descobrir as diretrizes dos seus próprios movimentos e aprender tudo o que é necessário para os executar bem.”
Para seguir
o ritmo da criança é necessário que o adulto seja paciente e calmo. A criança
observa todos os seus movimentos. Seguir o ritmo da criança é respeitar os seus
movimentos, sejam eles lentos ou rápidos. Interrompê-los, nas suas preciosas
ações, é eliminar a sua oportunidade de aprendizagem.
Escrevi este texto para o blog Our Picturing Days, um espaço de partilha muito intimista. A autora do blog, a Vânia, tem muita curiosidade sobre o Método Montessori e trocamos algumas ideias sobre este tema. Talvez as dúvidas da Vânia, sejam também as dúvidas de outras mães e por isso, partilhar conhecimento sobre este método é para mim uma alegria muito grande. Obrigada Vânia pela oportunidade.
· * Todas as citações foram retiradas do livro A
Criança, de Maria Montessori