Tema difícil. As questões:
Devemos
fazer as crianças acreditar no Pai-Natal, para sentirem o espírito do Natal?
Como podemos pensar de que não saber sobre o Pai Natal, é algo mau ou triste?
Que mensagem
transmitimos quando dizemos que os monstros não existem, mas que o Pai Natal
existe e desce pela chaminé?
Se as crianças
souberem que os presentes vêm da família e dos amigos e não do Pai Natal, torna a noite de Natal
menos especial?
Se eu tenho
uma relação de confiança com a minha criança, baseada na verdade, porque devo
alimentar o mito do Pai Natal?
Se eu quero
ensinar a minha criança que a vida custa a ganhar, como lhe explico a
quantidade de embrulhos que coloco debaixo da árvore de Natal?
Felizmente, os
meus pais nunca me iludiram com a história do Pai Natal. Não escondiam de onde
vinham os presentes. E hoje, estou muito grata por isso. Mas também sinto
alguma tristeza. Tristeza, por saber que, mesmo com dificuldades económicas
ainda me davam presentes. Queridos Pais, não era necessário. Hoje, mais do que nunca
percebo o vosso esforço. Na altura, certamente teria ficado contente com as
prendas, eu sei. Mas sabendo que, isso exigiu o vosso sacrifício… dói bastante.
Nunca
esquecerei que, não alimentaram o Natal com base em histórias, mas sim em
partilha numa simples mesa de cozinha, recheada de comida saborosa.
E para mim
Natal é isso, a simplicidade da reunião.
E os presentes? Dispenso. (embora as meias/roupa interior faça sempre jeito ;))
E os
presentes para a minha criança? São suficientes os presentes dos avós, dos tios, dos
padrinhos e dos amigos, dos vizinhos, das festas de natal locais…
E se ela
quer algo específico, que nenhuma destas pessoas ofereceu? Sim, podemos ponderar, vamos ver
quanto custa, se podemos comprar e vamos juntas procurar essa coisa especial.
Será que temos de viver este mito, esta fantasia do Pai Natal,
para dar alegria à criança? Ou para ela entrar no campo da imaginação ou criar
fantasias?
Como podemos tornar o Natal uma época especial para as
crianças, sem esta fantasia? É sempre uma decisão difícil para os pais, pois
esta bastante enraizada na nossa cultura. E é difícil de evitar, porque desde a
família à escola, quase tudo gira em volta da carta ao Pai Natal.
Sem querer impor ou idealizar, trago aqui uma outra prespectiva
– o conceito de imaginação e fantasia abordado por Maria Montessori.
No seu livro Spontaneous Activity in Education, Montessori escreve:
A tradução
da palavra Credulity é credulidade,
que significa:
- Qualidade
da pessoa que é crédula e ingênua, que acredita facilmente naquilo que ouve.
- Crença nos
sentidos da fé religiosa, nas divindades ou nas coisas sobrenaturais.
A imaginação
tem imensa importância na vida da criança. Mas trata-se da sua própria
imaginação, da sua própria fantasia. Daquela que ela própria constrói e não
daquela que lhe é transmitida pelos adultos ou imposta pela sociedade. Quando
lhe contamos a história do Pai Natal de barbas brancas, estamos a contar um
mito a uma criança com base na sua credulidade. Ou seja, com base na sua
ingenuidade e na sua capacidade de acreditar totalmente no adulto que ama.
Acho que esta
análise de Montessori, mostra a todos que pensam que contar a fantasia às
crianças potencia a sua imaginação. Estas histórias são produtos da imaginação
dos adultos. E nós adultos, sabemos bem que são fantasias criadas com objetivos
comerciais. Estas histórias não ensinam a criança a imaginar, ficam sim a conhecer
histórias inventadas pela cabeça de outros.
Isto faz
sentido para mim e para a minha família.
De qualquer
forma, temos bonecos de Pai Natal em casa. A miúda brinca com esses bonecos e
cria as suas fantasias. Escreve a carta ao Pai Natal e faz desenhos alusivos a
essa figura. Isto não é fomentado em casa, mas é no mundo externo, onde ela
habita e convive. E está tudo bem!
É inevitável. Mas a forma como abordamos esta questão em família é que pode ser diferente. Se quisermos.
Se lhe perguntarmos quem é o Pai Natal,
ela associa que é um boneco, do género dos bonecos dos desenhos animados e
está na categoria da Elsa Frozen ou da Patrulha Pata!
Não deixamos de cumprimentar os milhentos Pais Natal que nos aparecem na rua e nas lojas. Cumprimentamos, rimos e perguntamos se correu bem a tal viagem e se está muito cansado!
Esta época
do ano é muito rica em tradições pelo mundo fora. E há imensa coisa para além
do Pai Natal, que podemos transmitir à criança e tornar esta altura muito
especial.
Podemos falar sobre o São Nicolau e a sua bondade. É uma linda
mensagem para as crianças e levá-las a criar a sua própria mensagem interior.
Temos
toda a preparação do Advento ao longo do mês de Dezembro, que pode ser muito
criativa. A criação da coroa do advento com velas, pequenos ramos, paus, folhas, pinhas...
Podemos desenvolver
várias atividades em volta deste tema, muito inspiradoras. Aqui tens algumas ideias
que partilhei no Natal do ano passado.
Viver o
Natal de forma tranquila, sem pressão de estímulos externos - “se te portares bem , o Pai Natal traz-te uma
prenda” Será por isto que ele existe?
Brincar com as crianças, construir
uma casinha de luz com elementos naturais que recolheram numa caminhada, será
certamente viver a magia, a criatividade, a imaginação e a fantasia. E
sobretudo sem aquela espécie de mentirinha que supostamente não faz mal a
ninguém. Mas que infelizmente, muitas crianças, quando a descobrem, o seu
coração fica totalmente partido. Será que vale a pena?
O nascimento
de Jesus é o símbolo da esperança na humanidade. Esta é também a mensagem de Maria
Montessori sobre a criança: ela é a luz para a salvação da humanidade e para a
construção da paz no mundo.
Montessori,
no livro A Criança, menciona que a energia desconhecida que pode ajudar a
Humanidade é aquela que reside na criança, e que a devemos considerar como farol
da nossa vida futura, pois ela contém o segredo da nossa natureza e se converte
em nosso mestre.
As crianças
são seres altamente inspirados e se lhes damos o poder de serem as nossas
estrelas de esperança, todos iremos descobrir o verdadeiro espírito de Natal.