07/12/2016

O Natal, A Fantasia e o Espírito de Natal


Tema difícil. As questões:
Devemos fazer as crianças acreditar no Pai-Natal, para sentirem o espírito do Natal?
Como podemos pensar de que não saber sobre o Pai Natal, é algo mau ou triste?
Que mensagem transmitimos quando dizemos que os monstros não existem, mas que o Pai Natal existe e desce pela chaminé?
Se as crianças souberem que os presentes vêm da família e dos amigos e não do Pai Natal, torna a noite de Natal menos especial?
Se eu tenho uma relação de confiança com a minha criança, baseada na verdade, porque devo alimentar o mito do Pai Natal?
Se eu quero ensinar a minha criança que a vida custa a ganhar, como lhe explico a quantidade de embrulhos que coloco debaixo da árvore de Natal?

Felizmente, os meus pais nunca me iludiram com a história do Pai Natal. Não escondiam de onde vinham os presentes. E hoje, estou muito grata por isso. Mas também sinto alguma tristeza. Tristeza, por saber que, mesmo com dificuldades económicas ainda me davam presentes. Queridos Pais, não era necessário. Hoje, mais do que nunca percebo o vosso esforço. Na altura, certamente teria ficado contente com as prendas, eu sei. Mas sabendo que, isso exigiu o vosso sacrifício… dói bastante.
Nunca esquecerei que, não alimentaram o Natal com base em histórias, mas sim em partilha numa simples mesa de cozinha, recheada de comida saborosa.
E para mim Natal é isso, a simplicidade da reunião.
E os presentes? Dispenso. (embora as meias/roupa interior faça sempre jeito ;))
E os presentes para a minha criança? São suficientes os presentes dos avós, dos tios, dos padrinhos e dos amigos, dos vizinhos, das festas de natal locais…
E se ela quer algo específico, que nenhuma destas pessoas ofereceu? Sim, podemos ponderar,  vamos ver quanto custa, se podemos comprar e vamos juntas procurar essa coisa especial.

Será que temos de viver este mito, esta fantasia do Pai Natal, para dar alegria à criança? Ou para ela entrar no campo da imaginação ou criar fantasias?
Como podemos tornar o Natal uma época especial para as crianças, sem esta fantasia? É sempre uma decisão difícil para os pais, pois esta bastante enraizada na nossa cultura. E é difícil de evitar, porque desde a família à escola, quase tudo gira em volta da carta ao Pai Natal.

Sem querer impor ou idealizar, trago aqui uma outra prespectiva – o conceito de imaginação e fantasia abordado por Maria Montessori. 
No seu livro Spontaneous Activity in Education, Montessori escreve:


A tradução da palavra Credulity é credulidade, que significa:
- Qualidade da pessoa que é crédula e ingênua, que acredita facilmente naquilo que ouve.
- Crença nos sentidos da fé religiosa, nas divindades ou nas coisas sobrenaturais.

A imaginação tem imensa importância na vida da criança. Mas trata-se da sua própria imaginação, da sua própria fantasia. Daquela que ela própria constrói e não daquela que lhe é transmitida pelos adultos ou imposta pela sociedade. Quando lhe contamos a história do Pai Natal de barbas brancas, estamos a contar um mito a uma criança com base na sua credulidade. Ou seja, com base na sua ingenuidade e na sua capacidade de acreditar totalmente no adulto que ama.

Acho que esta análise de Montessori, mostra a todos que pensam que contar a fantasia às crianças potencia a sua imaginação. Estas histórias são produtos da imaginação dos adultos. E nós adultos, sabemos bem que são fantasias criadas com objetivos comerciais. Estas histórias não ensinam a criança a imaginar, ficam sim a conhecer histórias inventadas pela cabeça de outros.

Isto faz sentido para mim e para a minha família.

De qualquer forma, temos bonecos de Pai Natal em casa. A miúda brinca com esses bonecos e cria as suas fantasias. Escreve a carta ao Pai Natal e faz desenhos alusivos a essa figura. Isto não é fomentado em casa, mas é no mundo externo, onde ela habita e convive. E está tudo bem! 
É inevitável. Mas a forma como abordamos esta questão em família é que pode ser diferente. Se quisermos.
Se lhe perguntarmos quem é o Pai Natal, ela associa que é um boneco, do género dos bonecos dos desenhos animados e está na categoria da Elsa Frozen ou da Patrulha Pata! 
Não deixamos de cumprimentar os milhentos Pais Natal que nos aparecem na rua e nas lojas. Cumprimentamos, rimos e perguntamos se correu bem a tal viagem e se está muito cansado! 

Esta época do ano é muito rica em tradições pelo mundo fora. E há imensa coisa para além do Pai Natal, que podemos transmitir à criança e tornar esta altura muito especial.
Podemos falar sobre o São Nicolau e a sua bondade. É uma linda mensagem para as crianças e levá-las a criar a sua própria mensagem interior. 
Temos toda a preparação do Advento ao longo do mês de Dezembro, que pode ser muito criativa. A criação da coroa do advento com velas, pequenos ramos, paus, folhas, pinhas...
Podemos desenvolver várias atividades em volta deste tema, muito inspiradoras. Aqui tens algumas ideias que partilhei no Natal do ano passado.


Viver o Natal de forma tranquila, sem pressão de estímulos externos -  “se te portares bem , o Pai Natal traz-te uma prenda” Será por isto que ele existe? 
Brincar com as crianças, construir uma casinha de luz com elementos naturais que recolheram numa caminhada, será certamente viver a magia, a criatividade, a imaginação e a fantasia. E sobretudo sem aquela espécie de mentirinha que supostamente não faz mal a ninguém. Mas que infelizmente, muitas crianças, quando a descobrem, o seu coração fica totalmente partido. Será que vale a pena?



O nascimento de Jesus é o símbolo da esperança na humanidade. Esta é também a mensagem de Maria Montessori sobre a criança: ela é a luz para a salvação da humanidade e para a construção da paz no mundo.

Montessori, no livro A Criança, menciona que a energia desconhecida que pode ajudar a Humanidade é aquela que reside na criança, e que a devemos considerar como farol da nossa vida futura, pois ela contém o segredo da nossa natureza e se converte em nosso mestre.


As crianças são seres altamente inspirados e se lhes damos o poder de serem as nossas estrelas de esperança, todos iremos descobrir o verdadeiro espírito de Natal.


17/11/2016

Metamorfose da Borboleta - Explicada às crianças


Será que a borboleta lembra que já foi lagarta?
Será que a lagarta sabe que um dia vai voar?

Vê o vídeo e canta a música:


Metamorfose significa mudança.  É a transformação de um ser em outro.

Como explicar esse fenómeno às crianças? Montessori ajuda-nos! ;) 

Podes ler como funcionam os cartões de 3 partes para aprendizagem de vocabulário, nos textos Ciclo de Vida do Sapo e Cartões Nomenclatura Montessori.

Fizemos juntas os cartões, cortamos, plastificamos... a miúda gosta de participar no processo de criação. Depois de prontos, ela própria pegou nos cartões e no conjunto de peças do ciclo da borboleta e preparou o tabuleiro... Como faz sentido montessori nas nossas vidas!

Expliquei-lhe a metamorfose da borboleta. Como uma lagarta se transforma em borboleta? É magia, diz ela!






Os objetos, os livros e os vídeos consolidam a aprendizagem. Hoje, aprender é fabuloso! Temos muitos recursos. Porque não incluir as novas tecnologias na aprendizagem?
Exploramos ainda estes vídeos no youtube:

Metamorfose de uma borboleta


Como nascem as borboletas


Monarch Butterfly Metamorphosis time-lapse 


Metamorfose da Borboleta - animação


Palavra Cantada - A lagarta e a borboleta

Depois desta aprendizagem, sorte mesmo, era encontrar um casulo verdadeiro e poder observar de perto a metamorfose.
A magia da natureza e da vida!

Celebrar a Vida | 4 anos


Dia de Aniversário. Celebramos a vida. 
Gostamos de celebrações simples, momentos tranquilos.

Em Montessori, o ritual de celebração da vida é muito especial. É um momento de auto-conhecimento, facilitado através de uma abordagem cósmica. É explicada à criança a relação da Terra com o Sol, do seu movimento em torno do Sol.  A criança vai compreendendo que a cada aniversário, a Terra deu mais uma volta completa à volta do Sol e que passou mais um ano. 
Ano após ano, conta-se a história de vida da criança, desde o seu nascimento até ao dia da celebração de mais um aniversário. Contam-se pormenores sobre o seu crescimento, mostram-se fotos e podem-se também partilhar objetos que tenham algum significado especial. Com este espaço de reflexão, a criança vai tomando consciência da sua evolução e do seu lugar na Terra.


Let us give the child a vision of the whole universe… If the idea of the universe be presented to the child in the right way, it will do more for him than just arouse his interest, for it will create in him admiration and wonder… The knowledge he then acquires is then organized and systematic; his intelligence becomes whole and complete because of the vision of the whole that has been presented to him… No matter what we touch, an atom, or a cell, we cannot explain it without knowledge of the wide universe. To Educate the Human Potential, Montessori

A comemoração do aniversário desta forma especial,  é uma  pequena introdução à educação cósmica e ao ensinamento sobre a ligação da criança com o Universo.
A criança segura na sua mão um globo, que representa a Terra e que dá a volta  ao Sol, representado por uma vela amarela. Esta celebração simbólica vai acrescentando informação na linha de vida da criança e esta vai assimilando as relações de interdependência.
É um momento lindo e a cada ano que passa, torna-se mais intenso.  

Começamos por preparar o Sol. Na cartolina amarela desenhamos e cortamos um círculo. Cortamos também pequenas tiras que representam os raios solares e onde escrevemos os meses dos anos.
No meio do círculo colocamos a vela, a simbolizar a luz do Sol. Em volta estão os raios solares, a representar os doze meses do ano. 
Junto do mês de aniversário, coloca-se o data de nascimento. 




Acendemos a vela e depois a criança,  por cada ano,  dá uma volta ao Sol, com a globo na mão. Explicamos de forma serena o  movimento.  Narramos a sua história de vida e apreciamos... Desfrutamos do momento com calma e com presença.

O conteúdo e a forma como narramos a sua história de vida, fica ao critério de cada família. Mais ou menos elaborada, mais ou menos engraçada, o importante é a criança e a família absorverem a intensidade do momento. A vida é um milagre.

É importante referirem de início o número de voltas que a criança vai dar e convém dar ênfase ao pormenor da passagem do ano, quando completaram uma volta. Desta forma a criança compreende melhor a razão do percurso em volta do Sol:  " ...vai dar quatro voltas ao Sol, porque faz quatro anos! Nasceste pequenina, pequenina ... e depois de uma volta ao Sol completaste um ano de vida... e já comias a sopa toda... já corriamos atrás de ti..., olha que foto mais linda, quando estavas a brincar na água... depois a terra deu mais uma volta ao sol e fizeste dois anos...." (e assim por diante)

Ao dar a volta ao Sol, podemos "cantarolar" algo como: A Terra deu a volta ao Sol... A Terra deu a volta ao Sol... 

Gosto muito desta celebração. Permite que a criança compreenda, de uma forma mais sensível e concreta, o movimento da Terra e os meses do ano. E acima de tudo é uma forma especial de conseguir estabelecer conexões entre a sua existência e a sua presença na Terra.



Aproveitamos sempre os livros para consolidar os nossos diálogos. Os livros ajudam-nos a reforçar a mensagem e a promover a curiosidade.

Ao longo desta jornada de comemoração da vida, fizemos um círculo de aniversário em argila. Inspirámo-nos no círculo de aniversário waldorf. Esse círculo é em madeira e dispõe de  furos onde são encaixadas o número de velas correspondente ao aniversário da criança. As pessoas juntam-se em volta do círculo à conversa. Se a criança quiser também se colocam objetos significativos.
Como não temos o círculo em madeira, a miúda fez em argila. Mostrei-lhe uma imagem do original e deu largas ao seu trabalho.







O número de velas é superior ao número de anos! Mas não faz mal... a miúda estava tão entusiasmada com o trabalho da argila e de colocar as velas! Tão bonito.


Também fizemos uma coroa de feltro, inspirada  nas especiais tradições waldorf. Na pedagogia waldorf, o pormenor faz toda a diferença. As coroas de aniversário de feltro trabalhado são uma preciosidade. 
A coroa de feltro que construímos é muito simples. Como se vê na foto utilizamos apenas feltro e pompons.   



Não  poderia faltar o bolo! Mãos na massa e fizemos um bolo de chocolate delicioso. Este bolo é muito prático,  não leva ovos e por isso não é necessário usar batedeira (yes!)





Enquanto o bolo está no forno, apreveitamos o tempo para uma outra atividade. Tabuleiro preparado para trabalhar o número correspondente ao aniversário, o quatro.




Depois de um dia tão intenso, merecemos uma boa fatia de bolo!



Celebrar a vida é isto. É estar presente e criar memórias.

11/11/2016

Celebrar o S. Martinho


Conta a história  que, no ano de 337, próximo da cidade de Samarobriva/Ambiano (atual Amiens, capital da da região de Picardia em França), ocorreu o famoso episódio do manto: Numa noite chuvosa de Novembro, um mendigo que tremia de frio pediu uma esmola a Martinho. Como não tinha moedas, Martinho cortou o seu próprio manto com a espada, dando metade ao pedinte...

Não é pela história ou por questões religiosas que valorizo este dia. Gosto de celebrar o S. Martinho, pelo convívio que se gera em volta da fogueira e das castanhas. Mas, para além deste encontro, há um outro momento que acho muito lindo e que quero partilhar convosco. Não é uma tradição portuguesa e por isso esta partilha leva-me à minha infância e ao desejo de transmitir esta celebração à minha filha.

A celebração simbólica de S. Martinho com a  Caminhada da Lanterna, com a Canção da Lanterna e com a História da Menina da Lanterna, é uma lição de amor e de empatia (vivida com muito carinho nas escolas e comunidades Waldorf). 
Muitas vezes questionamos como educar uma criança para ser, como transmitir os valores que achamos importantes. Então, podemos usar estas histórias e estes momentos para isso mesmo. Talvez as lanternas possam simbolizar a alma das crianças. Nesta altura do ano o dia vai diminuindo e a luz da lanterna pode ser pequena, mas toda a luz transmite serenidade na escuridão. A chama da luz, colocada na lanterna, segue segura pelo mundo escuro.

São momentos especiais que criam conexão, que criam memórias. Preparamo-nos ao longo dos dias para este ritual. Vamos aceitando o recolhimento, sem nunca perder a força da luz interior. A luz e a escuridão são símbolos constantes na nossa caminhada de vida. As crianças precisam desse conhecimento. Precisam de ter esperança na luz. Na luz da Humanidade. 

Eu vou com a minha lanterna,
Lanterna comigo vai,
No céu brilham as estrelas
Na terra brilhamos nós.
A luz se apagou,
P´ra casa eu vou,
Com a minha lanterna na mão


A Menina da Lanterna
Era uma vez uma menina que carregava alegremente a sua lanterna pelas ruas. De repente chegou o vento e apagou a lanterna da menina.
Ah! Exclamou a menina. – Quem poderá reacender a minha lanterna? Olhou para todos os lados, mas não encontrou ninguém. Apareceu, então, uma animal muito estranho, com espinhos nas costas, de olhos vivos, que corria e se escondia muito ligeiro pelas pedras. Era um ouriço.
Querido ouriço! O vento apagou a minha luz. Será que sabes quem poderia acender a minha lanterna? E o ouriço disse-lhe que não sabia, que perguntasse a outro, pois precisava de ir para casa cuidar dos filhos.
A menina continuou a sua caminhada....



A Caminhada da Lanterna

Vou acender a minha lanterna
P'ra iluminar a escuridão
Vou caminhar aqui na Terra
E vou cantando essa canção
Vou convidar cada criança
A cantar com a voz e o coração
P'ra ter de volta a esperança
E acender a luz do coração


Podemos fazer uma lanterna de vidro, aproveitando para reciclar os frascos que vamos acumulando. Qualquer frasco serve, coloca-se arame em volta para segurar  e no interior uma pequena vela. Segura-se com a mão ou com outro arame ou mesmo com um pau.
Se quisermos fazer alguma outra atividade manual com as crianças, podemos construir uma lanterna de papel. Deixo aqui um link para um vídeo, que na parte final apresenta um tutorial simples para fazer uma lanterna de papel. Depois é só usarem a imaginação. 

17/10/2016

Montessori e a Natureza


"A natureza confere à criança sensibilidade à ordem para se construir, um sentido interno que não se destina a conhecer a diferença entre as coisas, mas as relações entre elas, e por isso as liga ao ambiente, constituindo um todo, em que todas as diferentes partes dependem entre si." Maria Montessori, A Criança


"As estrelas, terra, pedras, a vida de todos os tipos formam um todo em relação uns com os outros, e tão perto é essa relação que não podemos entender uma pedra sem algum conhecimento do grande sol! Não importa o que tocamos, um átomo ou uma célula, não podemos explicá-lo sem o conhecimento do universo inteiro."  Maria Montessori, Educar o Potencial Humano


Nos últimos tempos, temos assistido a várias reportagens na televisão, sobre o estado da educação em Portugal e a comparação com países nórdicos. Podem assistir clicando nos seguintes links:

*As pessoas crescidas não percebem nada (reportagem especial sic)

*A escola cá e lá (linha da frente rtp)

*A escola, o futuro e o 9ºH  (grande reportagem sic)

Não focando nos modelos educativos, nem nas políticas de educação, nem na desmotivação total de professores e alunos, quero chamar a atenção para a falta de um elemento muito importante na vida de qualquer ser humano: A NATUREZA.  Em qualquer destas reportagens verifica-se a ausência quase total de contacto com a natureza por parte dos alunos, em Portugal.
Os nossos ambientes educativos não contemplam espaços naturais. E aqui dá-se o processo que Maria Montessori, refere nas suas obras, em que todas as crianças nascem predestinadas à vida na natureza, mas pela via educacional, são obrigadas a adaptar-se à vida na civilização.




Uma das soluções para uma escola mais motivadora é "inclusão" da natureza. Em Portugal, cortam-se as árvores, retiram-se os jardins para criar estacionamento, eliminam-se as hortas pedagógicas, fazem-se desaparecer as caixas de areia... As crianças não mexem na terra porque suja, a arte suja, o movimento pode magoar... E os resultados não estão a ser bons!

Vejamos o vídeo da escola Projeto Âncora, no Brasil (apoiado por José Pacheco, Escola da Ponte). Rodeados de natureza!




Muitas vezes o método montessori é associado a materiais complexos e muito vulgarmente ao quarto montessoriano. Sim, o método montessori contempla materiais científicos, com propósitos bem definidos. Mas, em diversas atividades, ou no ambiente preparado, a Natureza está sempre presente, sendo considerada como elemento precioso no desenvolvimento da criança. 
Todo o material utilizado neste método aproxima-se ao lado mais real dos objetos e das imagens. O mundo natural, a educação cósmica e o estudo do Universo são capítulos muito importantes deste método.  Sobre a educaçao cósmica e a vida no Universo, Maria Montessori realça que a Terra é onde estão as nossas raizes e que por isso o contacto das crianças com a natureza as faz sentir que pertencem a esse lugar. Só conhecendo a Terra aprendem a respeitá-la e a tornarem-se crianças mais ligadas com a natureza. As famílias e as escolas são o elo de ligação entre a criança e a natureza




Maria Montessori, era conhecedora dos benefícios desse contacto:  a autonomia, o relaxamento e a concentração

Este vídeo maravilhoso foi inspirado no livro de Richard Louv, "The Last Child in the Woods" que aborda a importância e os benefícios da Natureza na vida das crianças.



Felizmente, vão surgindo projetos interessantes, que através da música vão falando sobre a natureza.


08/10/2016

Folhas de Outono



A Natureza dá, nós colhemos. As folhas do Outono são uma mensagem da Natureza. Trazem consigo uma nova estação do ano e preparam-nos para o recolhimento. 
As crianças adoram apanhar folhas, ver as diferenças de cores, das tonalidades, das suas formas e dos diferentes tamanhos... Com as folhas podemos criar imensas atividades com as crianças. Apresento-vos uma dessas possibilidades, que já fizemos cá em casa. Mais simples não há!

Depois de passarmos bons momentos a apanhar folhas, escolhemos algumas e começamos a fzer coisas.
Já sabes que por aqui, pensa-se muito em Montessori, por isso organizamos todo o material em tabuleiros! ;)




Só precisamos de folhas, de tesoura e de papel contacto (autocolante) transparente. 
Colam-se as folhas no papel e depois juntam-se as duas folhas autocolantes transparentes.




Cortam-se individualmente ou deixa-se o conjunto de folhas. 





Depois é só pendurar na janela e ir vendo os efeitos da luz sobre as folhas!
Ou apenas contemplar... ou contar histórias...

17/09/2016

Ensino Doméstico


Neste ano lectivo, a Ana inscreveu a sua filha em Ensino Doméstico. 
Esta escolha representa uma mudança radical nas crenças habituais. A maioria de nós não contempla esta visão no seu percurso escolar. O mais natural é ir para a escola. É mesmo?

Quando alguém coloca a cruz em Ensino Doméstico, no boletim de matrícula, já fez uma caminhada de aprendizagem sobre o tipo de educação escolar que pretende para os seus filhos. É uma escolha estudada e discutida em família. É uma opção exigente ao nível académico, ao nível familiar e ao nível económico. Cada família terá as suas razões em ter optado pelo ensino doméstico. Sabemos no entanto, que a escola pública precisa de uma mudança profunda. Ainda esta semana surgiram notícias sobre este assunto que podem ler aqui e aqui. E a cada passo surgem notícias sobre violência nas escolas. O bullying é uma realidade diária e é causa de suicídio entre adolescentes. A tendência para achar "normal" a violência entre crianças é a mesma que acha "normal" a palmada e o castigo.

Aos que, embora gostassem, mas não podem optar pelo ensino doméstico e aos que simplesmente esta opção não faz qualquer sentido, resta continuar a lutar por uma escola pública mais ajustada e com mais empatia.

O texto que vão ler a seguir é inteiramente escrito pela Ana e aborda a sua opção pelo ensino doméstico. Foi a partir do seu texto  "Não pode protegê-la para sempre" que  lhe lancei o pedido de escrever algo sobre este tema. Obrigada Ana pela partilha! 
Podem acompanhar a Ana através do seu blog fitadevies.wordpress.com. 



**


Optar pelo Ensino Doméstico foi um acaso feliz. Em conversa com uma colega de trabalho, durante a minha licença de maternidade, tomei conhecimento desta modalidade. Ela assegurou-me que seria uma excelente escolha para a minha filha. A partir daí, pesquisei imenso sobre o assunto e a decisão foi tomada em conjunto com o meu marido. A nossa filha começou agora o 1.º  ano e acreditamos que tomámos a escolha certa.

Em condições ideais considero que o Ensino Doméstico poderá ser amplamente benéfico para a criança e para a família. Em condições nada ideais poderá ser catastrófico. Da mesma forma que a escola é a melhor coisa do mundo para muitas crianças e adolescentes e a pior para outros, o E. D. poderá ser uma experiência fantástica e positiva ou castradora e traumatizante. Há que não esquecer que apesar das dificuldades que a escola enfrenta a nível de ensino/aprendizagem, é nesse espaço que muitos alunos têm acesso a cuidados de higiene, alimentação e afecto humano. Muitos professores e funcionários das nossas escolas são pais, mães, irmãos e tios. Apesar dos problemas que reconheço na escola pública recuso-me a fazer a apologia do E. D. como sendo a melhor opção do mundo. Poderá ser uma experiência fantástica consoante o empenho e dedicação dos pais. É importante que os pais/encarregados de educação sejam capazes de reconhecer as suas limitações e saibam desistir quando necessário. Pela  responsabilidade que acarreta creio que não é uma opção indicada para a maioria das pessoas. É crucial que as famílias que optam por este caminho tenham em consideração dois aspectos: se decidem inscrever os filhos em E.D. devem ensinar as bases transmitidas na escola (é importante atingir, pelo menos, os objectivos mínimos do Currículo Nacional) e devem ter um especial cuidado com a socialização dos filhos/educandos. São dois aspectos de extrema importância e que, devido a uma proliferação de anedotas infelizes nas redes sociais, são tratados de forma leviana. Julgo que se houvesse uma melhor aceitação da Declaração Universal dos Direitos da Criança muitos pais repensariam se terão o direito de retirar aos filhos a possibilidade de aprender determinadas matérias, por mais inúteis que lhes pareçam, ou de colocá-los numa situação de isolamento social[1].

Tendo em conta a recusa, da maioria dos pais homeschoolers, em aceitar que o ensino em casa possa ter desvantagens e criar problemas sérios, se mal encaminhado, não creio que esta ou outra qualquer opção de ensino se possa tornar na resolução mágica dos problemas desta sociedade. O problema é mais profundo do que uma mera opção de aprendizagem ou de estilo de vida.  Na verdade, considero que se há dedo a apontar é ao próprio Estado visto encarregar-se dos filhos dos cidadãos desde que nascem (creches) até à sua morte (lares). Acho extraordinário que poucas pessoas se atrevam a questionar o porquê desta institucionalização precoce do ser humano. Nem compreendo por que motivo as pessoas se espantam com a falta de empatia das gerações mais novas. Produzimos filhos que são criados em série, em ambientes artificiais, com cuidadores especializados, e ficamos surpreendidos com a alienação cada vez mais presente na sociedade contemporânea.

Esta alienação está presente, por exemplo, na forma como a sociedade encara o bullying. Ainda há a crença estranha de que as dificuldade moldam o carácter. Esta ideia não é completamente errada. A criança ao aprender a andar não se deixa vencer pelo obstáculo da queda. No entanto, não é por isso que os pais causam a queda propositada da criança para que aprenda a andar. Da mesma forma, embora o mundo real esteja cheio de dificuldades e desafios não é por isso que devem ser permitidas acções de teor criminoso que colocam em risco a vida e saúde física/mental das vítimas. É assim que encaro o bullying nas escolas. Não se trata de criar flores de estufa ou seres humanos incapazes de lidar com a menor das dificuldades. Trata-se de garantir que nas escolas todos os alunos se sentem em segurança. É um direito consagrado na Constituição portuguesa. Como podem as escolas esperar criar cidadãos exemplares quando não conseguem garantir a supressão de actos criminosos nos seus recintos? E por actos criminosos considero: violência física, emocional e sexual. É deplorável que num recinto escolar, como já foi noticiado, seja permitido alunos atacarem um colega despindo-o e atando-o a um poste. É inadmissível que um aluno seja sovado na zona genital por colegas, que seja violado nos balneários ou que seja humilhado publicamente e/ou nas redes sociais. E tudo isto num clima de impunidade. Devido ao aumento de indisciplina as escolas tornaram-se em arena. Para a escola pública funcionar é necessário que a sociedade exerça pressão para que o bullying tenha tolerância zero. Neste momento já vamos tarde demais. Infelizmente, a segunda causa de suicídio entre adolescentes, em 2010, foi o bullying. Em Espanha já começaram a surgir os primeiros casos de suicídio infantil. É terrível para um ser humano ainda em desenvolvimento ter de lidar com ataques sem ser capaz de se defender. Impossibilitados de pedir ajuda aos pais e professores, graças à mentalidade de “não sejas chibo”, “não sejas bebé”, “faz-te homem” e “desenrasca-te” há cada vez mais alunos a passarem por situações terríveis que despoletam problemas mentais e emocionais a curto, médio e longo prazo. Deixo como referência alguns estudos que focam de que forma o stress crónico afecta crianças e adolescentes a longo prazo:




A escola pública tem de mudar para que possa ser salva. É impossível existir ensino de qualidade quando se debate, todos os dias, com actos violentos de alunos contra alunos, funcionários e professores. Infelizmente, tais actos poderão ser apenas a resposta à institucionalização forçada e precoce que o estilo de vida contemporâneo impõe à maioria dos seres humanos. Ao fim ao cabo, vivemos todos na grande quinta de Orwell.




[1]Sobre estes assunto remeto a leitura para estes dois sítios na net: https://homeschoolersanonymous.org/ e http://www.responsiblehomeschooling.org/

21/08/2016

Espiralizar legumes | Vida Prática


O desafio: esparguete de courgette, de pepino e de cenoura, acompanhado de guacamole
Com o espiralizador, a criança consegue fazer rodar os legumes e este movimento resulta em algo parecido a massa esparguete. É uma atividade de vida prática muito boa. E para além disso, torna o prato de legumes mais apetecível para as crianças (e adultos).
Desde a preparação dos alimentos até ao resultado final, esta atividade envolve muitas habilidades e muita concentração. Com calma e humor e sem criar expectativas, as crianças conseguem surpreender-nos pelo seu interesse na vida real. Quanto mais oportunidades de experiências reais lhes forem proporcionadas, mais interesse vão demonstrando. Esse interesse, esse amor pelo trabalho que Maria Montessori explica no seu método, abre inúmeras possibilidades de desenvolvimento da criança. Podes ver mais vida prática aqui.

E para beber? Vai um Sumo das Princesas.






Com Crianças - Parque Urbano/Infantil na Póvoa de Varzim


Já escrevi neste blog sobre dois parques que são bons exemplos de investimento na infância (por parte de entidades públicas) - o Parque de S. Roque e  o Parque do Covelo, ambos na cidade do Porto. Podem ler mais detalhes aqui.

Por indicação de amigos (obrigada pela dica), conheci um outro parque. Fabuloso!
Não posso dizer que é um parque infantil, não porque não o seja, mas sim porque abrange mais do que a infância. Não é comum encontrar um espaço de lazer para idades tão diversificadas. 

(A maioria dos parques que conheço são limitados. Ora só podem servir as crianças até aos 3 anos, ora só para crianças mais velhas. Entre uns e outros a oferta é pouco variada. Concordam comigo? )

Este parque está localizado no Parque Urbano da Póvoa de Varzim (felizmente há quem invista em equipamentos interessantes para as crianças) e está inserido numa envolvente paisagística linda! O verde é a cor predominanteA envolvente natural é linda! Cheio de espaços amplos e ligados de forma harmoniosa.
Os equipamentos em madeira são robustos e de excelente qualidade. As imagens dão uma pequena ideia.


Este conjunto de escorregas e escadas é incrível! Para além de ser visualmente bonito, apresenta vários tipos de desafios, para diferentes idades.


Para os mais pequenos, as casinhas de madeira são um mundo fantástico. Reparem que tem uma mesinha e bancos... quantas histórias se podem inventar aqui...



E estes baloiços de pneus? Onde se encontra disto???



Sim, tal como o Parque do Covelo, o Parque da Póvoa de Varzim também tem slide. Mas até tem uma extensão de corda maior.





Para além da rede de baloiço e de barras, existe um circuito de manutenção para adultos, que está disperso pelo parque (obrigando a um verdadeiro exercício físico!)

E mais, tem um lago! Com patos!
Podemos contemplar toda esta beleza sentados na relva ou num belo banco de jardim.



Para bebés e crianças de colo, o equipamento disponível é mesmo a natureza - deitar na relva, gatinhar pelo espaço imenso ou mexer na gravilha que cerca todos os equipamentos. 
Algo também raro é que neste parque não há piso sintético!
Existem sombras espalhadas o longo de todo o parque. 
Os acessos são fáceis e há muito espaço de estacionamento. Tudo gratuito.

Este blog é um espaço onde partilho atividades positivas para toda a família. Fica aqui a sugestão de visitares este parque delicioso, com as tuas crianças. Espero que gostes! Nós tentamos ao máximo usufruir. Sou bastante crítica em relação à falta de investimento em bons equipamentos para as famílias e crianças. Mas quando conheço espaços como estes o meu coração fica melhor (mesmo que ainda considere que muito está por fazer). E quero sempre partilhar essa emoção com quem lê este blog. 

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