26/04/2016

Letras e Números DIY



No método Montessori, a abordagem ao alfabeto e aos números tem um percurso próprio. No post 8 ideias para explorar o alfabeto explico de forma geral esta questão. No método Montessori são usados materiais muito concretos para a aprendizagem das letras e dos números. Deste percurso fazem parte os encaixes geométricos, as letras de lixa e a caixa de areia.

Não sendo propriamente o material com as especificidades aplicadas no método, criamos cá em casa uma outra forma de abordar as letras e os números, mas sempre inspirados em Montessori.  ;)




Os materiais que utilizamos foram:
  • letras adesivas em cortiça, em eva e em feltro. 
  • argolas
  • post-it nas cores azul, rosa e verde*.
  • folha de plastificação, furador, cortador de cantos
*Post it Azul para as vogais, rosa para as consoantes e verde para os números, tal e qual é definido pelo método montessori.
Em alternativa ao post-it, podes usar cartolinas. Preferi post-it, porque achei mais simples, o tamanho era o adequado e não tinha de estar a cortar.



Colocamos o post-it na folha plástica, para plastificaçao. Este passo faz sentido, para que o material tenha bastante durabilidade ou para uso escolar mais frequente.




Depois de cortados os cartões á mesma medida (mais ou menos, aqui em casa é mais para o menos. Mesmo com guilhotina ás vezes os cortes saiem ligeiramente inclinados!), estão prontos para colar as letras adesivas.
No final é só fazer um furo na extremidade de cada cartão e colocar uma argola para prender, como se vê na primeira foto deste texto.




Uma forma de trabalhar com estes cartões de letras é delinear com o dedo a forma das letras. Também este movimento deve ser feito com a toda a calma, da esquerda para a direita, uma letra de cada vez. De acordo com Montessori este movimento de pré-escrita, ajuda muito a criança na sua aprendizagem.



Seguindo sempre o ritmo da nossa criança e de acordo com a elaboração dos materiais, irei escrever sobre os encaixes geométricos, as letras de lixa e a caixa de areia. Estes materiais são muito ricos e é engraçado construi-los junto das nossas crianças. Não interessa apenas o objetivo final da atividade, mas sim todo o processo de construção e participação da criança. Não está aqui em causa, tão pouco, o ato de "ensinar o alfabeto". O que está presente é sempre o amor e a dedicação. E as crianças sentem isso de forma muito sensível. Talvez seja uma sugestão, para evitar comprar mais um brinquedo. Porque não, mediante os vossos ritmos, passarem uma tarde juntos, a construir este material?












22/04/2016

O Barnehage dos meus filhos, Jardim-de-Infância na Noruega


A Joana Costa é mãe de dois meninos e vive na Noruega. Conhecemo-nos através das redes sociais e descobrimos que partilhamos de um interesse comum - a educação das crianças. Ora, juntando este interesse à minha curiosidade sobre como é a infância das crianças lá fora, noutros países, rapidamente começámos a trocar mensagens. E tem sido lindo! Obrigada Joana!
Hoje, apresento aqui no blog, com muita alegria, um texto incrível, sobre a sua experiência com o jardim-de-infância dos seus dois filhos.


O barnehage dos meus filhos
Joana Costa, Sandefjord, Noruega

Somos uma família de quatro: um pai, uma mãe e dois rapazitos giros de 1 e 4 anos de idade. Mudámo-nos para Sandefjord, Noruega, no início de 2015 e desde Agosto desse ano que os meus filhos frequentam um jardim-de-infância norueguês. Ou o chamado barnehage, como se diz por cá.

Os jardins-de-infância noruegueses recebem crianças desde os 0 aos 5/6 anos. Geralmente as crianças estão divididas em dois grandes grupos de acordo com a faixa etária em que se inserem: um grupo de crianças com idades compreendidas entre os 0 e os 2/3 anos e outro grupo com crianças de idades entre os 3 e os 5/6 anos. No caso específico do barnehage dos meus filhos, os dois grupos chamam-se, respectivamente, liten base e stor base. Numa tradução literal seria algo do género: base pequena e base grande. Esta divisão entre as crianças é, também, uma divisão física na partilha do espaço. No que diz respeito a espaços interiores e exteriores, uma parte do jardim-de-infância é frequentada pela stor base e a outra parte pela liten base.
Dentro de cada base pode, ou não, haver mais divisões entre as crianças. Mas geralmente crianças de diferentes idades estão juntas a brincar e a partilhar o mesmo espaço físico. Contudo, pode também haver divisões nomeadamente quando as educadoras pretendem desenvolver uma ou outra atividade que resultam melhor numa determinada fase de desenvolvimento da criança. Do meu ponto de vista, o facto de não separarem as crianças por anos/idades, isto é, não existirem turmas de meninos de 1 ano, separadas dos meninos de 2 anos, e por aí fora, tem a ver com o incentivo da aprendizagem entre as próprias crianças. Por outras palavras, as crianças mais novas brincam e aprendem com o conhecimento das crianças mais velhas. Por sua vez, os mais velhos aprendem a ajudar e a respeitar os mais novos. E existe, deste modo, uma troca mútua de experiências considerada benéfica.


No que diz respeito às rotinas diárias do jardim-de-infância, constato que há uma grande preocupação em permitir que a criança brinque o tempo máximo possível ao ar livre. A não ser em caso de condições meteorológicas adversas, parte do dia de “escola” da criança é passado ao ar livre. Quer esteja a nevar, a chuviscar, a fazer sol, a fazer vento, as crianças são incentivadas a brincar nos espaços de exterior.


Adicionalmente, as crianças mais pequenas, da liten base, também fazem a sesta na rua (debaixo de um telheiro) no interior da alcofa dos carrinhos de bebé.
Por estas razões, o vestuário dos filhos é sempre uma grande preocupação para os pais na Noruega. Temos de ter no barnehage roupa variada para, independentemente das alterações meteorológicas, os nossos filhos estarem devidamente equipados para ir brincar na rua. Temos coisas tão variadas como: galochas, casacos e calças impermeáveis, luvas impermeáveis, gorros finos, gorros grossos, botas de neve, fatos de neve, luvas para a neve, fatos finos à prova de água e vento, calças e camisolas polares, calças e camisolas interiores de lã, meias de lã e de algodão, luvas finas de malha, bonés para o sol, ténis,… Ufa! Um sem fim de roupa à prova de qualquer tipo de tempo!




Mas nas escolas norueguesas as crianças não estão na rua só para brincar. Aqui, incentiva-se muito o desenvolvimento das mais diferentes atividades ao ar livre. 


Em vez de estar a fazer desenhos e a pintar na sala, porque não pintar na rua? 
Em vez de pintar com tintas em folhas de papel, porque não pintar os ramos das árvores que se encontram no chão ou que se recolheram num passeio à floresta? 
Porque não lanchar no recreio em vez de lanchar dentro da sala ou cozinha? 
Porquê estar a fazer construções com peças de madeira dentro da sala quando se pode, também, estar no exterior a fazer castelos de areia (ou neve!) e a brincar com baldes, pás, escavadoras e camiões na caixa de areia? 

Sim, há dias em que os meus filhos chegam mesmo muito sujos a casa (talvez a grande maioria dos dias) e que inclusivamente “temos de os sacudir” antes de entrarem para não encherem a casa com areia. Mas apesar da sujidade, os nossos filhos chegam felizes! Muito felizes!
Gastaram energias o dia todo e por isso estão tão cansados que depois do banho e do jantar o sono chega rapidinho todas as noites.




Quanto ao espaço interior do jardim-de-infância, a única grande barreira física é entre a stor base e a liten base, de resto as crianças têm acesso a todas as salas do edifício. Em ambas as bases existem as mais diversas salas onde as crianças podem estar a desenvolver as mais diversas atividades ao mesmo tempo. Existe a sala de leitura, a sala de desenho, a sala de construções, a sala dos carros, a sala do faz de conta (com loja, cozinha, quarto e sala de brincar com bonecas) a sala de música e a sala temática (que muda a decoração conforme o projeto pedagógico em que as crianças estejam envolvidas em determinado momento). Por outro lado, o número disponível de educadoras de infância e assistentes é elevado, permitindo assim que as crianças se distribuam pelas diversas salas existentes e brinquem ou desenvolvam diversas atividades ao mesmo tempo. Apesar de existirem momentos do dia em que as atividades desenvolvidas pelas crianças são conduzidas e definidas por um adulto, parte do dia também é decidido pela criança. É a criança que decide o que quer fazer.  Pode optar por descansar um pouco e ler um livro na sala de leitura, ou ir fazer desenhos ou moldar em plasticina na sala de desenho ou brincar às casinhas na sala do faz de conta, por exemplo.

As visitas de estudo também são uma constante do barnehage dos meus filhos. E desde pequeninas, com apenas 1 ano de vida, as crianças fazem pequenos passeios ao exterior do jardim-de-infância. Muitos dos passeios ou visitas de estudo, acontecem no âmbito do projeto que esteja a ser desenvolvido naquele momento no barnehage. Por exemplo, quando o meu mais novo esteve a aprender sobre os bombeiros, fez uma visita ao quartel dos bombeiros. Quando abordaram a temática do Carnaval, foram passear até uma fonte com estátuas de crianças pequeninas e levaram roupas para vestirem ou “mascararem” as estátuas. Quando o meu mais velho esteve a aprender sobre lojas, e que com moedas e notas podemos comprar coisas, a visita de estudo dele foi ao supermercado próximo. Ou, então, nem é preciso um pretexto para ir fazer um passeio ou visita de estudo. Às vezes os dias estão tão bonitos e agradáveis que eles vão brincar para o parque da cidade, ou só dar um passeio pelas ruas, ou vão ao supermercado comprar pão para o lanche. Qualquer desculpa é uma boa desculpa para aproveitar o ar livre e ir dar um passeio, ou como se diz em norueguês gå på tur.


Imagem retirada do site http://www.nrk.no 
http://www.nrk.no/vestfold/turmat-kan-vaere-mer-enn-polser-1.12807565
Clica no link. Tem um vídeo muito amoroso, sobre a preparação da refeição, numa saída de um grupo de crianças á floresta.

Ainda no âmbito dos passeios ou visitas de estudo é comum, no jardim-de-infância dos meus filhos, fazer-se um passeio a uma floresta junto ao fiorde, no mínimo uma vez por mês. Neste caso, e com esta frequência, apenas as crianças de 4 e 5/6 anos participam, mas as de 3 anos também acompanham, por vezes, entre os meses de primavera e outono. Ao contrário dos restantes passeios que são a pé, o percurso até à floresta é feito de autocarro. As crianças passam lá o dia todo por isso cada criança transporta a sua própria mochila com uma muda de roupa. Na floresta existe uma pequena cabana, ou hytte em norueguês, que serve de refúgio nos dias mais frios de Inverno e onde é guardado todo o material do barnehage. 
Na floresta as crianças aprendem acerca da Natureza, observam árvores, procuram insetos, aprendem a fazer fogueiras para cozinhar ou aquecer o almoço, fazem carpintaria, sobem às árvores e aos montes rochosos. 
Já junto ao mar, aprendem a pescar e a apanhar caranguejos, observam as algas e as conchas e brincam na areia. Este é sempre o passeio favorito dos mais crescidos e é o passeio favorito do meu filho mais velho! Eles costumam ter muita liberdade no barnehage mas é ali que eles se sentem mais livres. Ali eles podem explorar o que os rodeia e é ali que eles podem ser os protagonistas das suas próprias aventuras!


Imagem retirada do site http://www.nrk.no 
http://www.nrk.no/vestfold/turmat-kan-vaere-mer-enn-polser-1.12807565.

Até agora a nossa experiência com um jardim-de-infância norueguês está a ser muito positiva. E vê-se pelas caras de felicidade dos meus filhos! É um pouco diferente do que estávamos habituados em Portugal mas não quer dizer que seja melhor ou pior, é diferente. Aqui a sociedade é diferente, a cultura é diferente e os hábitos são outros. Por isso, este modelo de jardim-de-infância reflete essas diferenças e a própria experiência de vida norueguesa. 


MUITO OBRIGADA JOANA PELA PARTILHA!


Podem conhecer um pouco mais sobre a experiência de vida da Joana Costa e da sua família na Noruega aqui, num texto sobre Portugueses no globo,  do blog de viagens halfway2happiness.

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